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Racha – a herança maldita de Bolsonaro

                          De todas as perguntas que se pode fazer para encontrar a resposta para o que está acontecendo hoje (2022) no Brasil, a mais importante é: por que estamos divididos?

JAMAIS SE VIU TAMANHA IGNORÂNCIA NO PAÍS

Depois de estumar a metade da nação contra a democracia, Bolsonaro enfim será sepultado na cova da ignomínia, mas seu legado político é imenso e serve para uma análise sociopolítica do Brasil.

Por muitos anos tenho escrito que há dois países dentro do Brasil, uma divisão que sempre esteve presente na conformação geográfica e étnica desta nação – Sul contra Norte. Mas depois desse sinistro movimento de racha, os intelectuais começaram a dar importância a esse fato histórico.

Nordestinos e sulinos possuem características antagônicas e sedimentadas por vários fatores, dos quais o principal é a aridez quase desértica do espaço geográfico nordestino em contraposição ao Sul, que possui uma possibilidade incalculável dos meios de produção.

A pujante riqueza do sul em contraponto à pseudo-mirrada possibilidade política econômica dos povos do norte geraram a pobreza extrema dessa parte da sociedade brasileira, pobreza gerada mais pelo abandono das políticas de Estado do que por qualquer outra coisa.

A logística de crescimento do sul (por questões estruturais – migração européia é um dado) gerou nos povos do sul a idéia de que são eles que alimentam os povos do norte/nordeste ao ponto de uma deselegante senhora nordestina; amansada pelo conforto do sudeste, postar em redes sociais, após ser derrotada na última eleição que: “ganhamos onde se produz, perdemos onde se passa férias, bora trabalhar, pq se o gado morrer o carrapato passa fome.” (sic)

Não obstante tenha sido o nordeste olvidado pela maquina do governo por séculos, sua cultura e resistência tem superado todas as dificuldades impostas, inclusive à desimportância a que foram relegados, principalmente pelos povos sul.

Culturalmente o nordeste doou ao Brasil o que há de mais importante, bastando para isso uma pequena incursão na história por nomes como: Bahia, Jorge Amado. Sergipe, Tobias Barreto. Alagoas, Lêdo Ivo. Pernambuco, João Cabral de Melo Neto, Augusto dos Anjos. Rio Grande do Norte, Nísia Floresta. Ceará, Rachel de Queiroz. Piauí, Costa e Silva. Isso pra ficar apenas numa referência superficial de um povo que produz em sua totalidade o que há de melhor e mais importante nesse País em termos de expressão cultural. (não falamos aqui em músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Alceu Valença etc.)

PERFIL

                                  Para entender a pergunta que abre esse artigo remontemos a historia sinistra do ex-ator da Globo, Guilherme de Pádua, o assassino de Daniella Perez em 1992.

Guilherme foi ator filme erótico, stripper, assassino, pastor de igreja e por fim apoiador de Bolsonaro. Sua ex-esposa, Paula Maia, disse em entrevista que ele era uma pessoa extremamente manipuladora; coisa típica de psicopata.

Deduz-se disso que Guilherme foi uma criatura que agiu dentro dos sintomas da psicopatia em todos os sentidos desde cedo, passando pelo assassinato de Daniella até seu manifesto político.

O fato de Guilherme de Pádua ter encontrado em Bolsonaro a ressonância de suas convicções, tipifica um modelo de comportamento social muito comum hoje em dia – a desimportâcia do outro, a falta de compreensão emocional pelo direito do outro, a intransigência com a postulação alheia que esteja desconforme à sua própria e acima de tudo, uma verdade própria.

Por ser um psicopata frio Guilherme conseguiu progressão de pena e ficou livre, mas na primeira oportunidade, deu vazão aos seus instintos, porque entende-se que os psicopatas possuem uma obstrução emocional ligada a ideia de arrependimento e consciência, mas que na primeira oportunidade, mostram uma atitude reativa em consonância com seus instintos. Uma distorção ligada à balança moral que sopesa: bem e mal, certo e errado. O negacionismo é uma evidência.

Esse estereótipo aqui elencado, em maior ou menor grau dá a nota da personalidade dos bolsonaristas que hoje estão afetados pela dureza da realidade de que o mundo não é deles e que é preciso aceitar vitórias e derrotas. A violência dos derrotados imposta pelas urnas contra a sociedade organizada é uma evidência do estado de alienação ideológica na qual estão mergulhados.

A dificuldade que existe em aceitar pessoas com idéias diferentes do outro lado da cerca criada pelo antagonismo é sintomática: pais e filhos estão divididos por questões de ideologia em todos os aspectos ao ponto de serem enxotados, saindo do campo político e embrenhando pelo fanatismo causado pelo chamado “Racha”.

DEMOCRATAS E REPUBLICANOS

                                 Ao modelo americano, aqui os bolsonaristas são identificados com os Republicanos, cidadãos que são contra a vacina, pregam o armamento da sociedade, são violentos por natureza e amam notícias falsas para atingirem seus fins políticos, tem ódio da esquerda e pregam um Brasil forte e voltado para dentro no campo econômico sem a intervenção do governo – o que equivale a dizer que são contra políticas sociais.

Os Republicanos são o que há de mais americano dentro do conceito do que seja americano e o bolsonarismo uma cópia violenta e simplória desse processo divisor na America.

Ainda dos americanos, o bolsonarismo copiou até o modelo simbólico, que é o uso da bandeira nacional como forma de identidade. Com a diferença de que lá, isso é um costume, já aqui, uma subversão simbólica.

O armamento da sociedade é também uma bandeira americana copiada por essa massa de apoiadores da extrema direita que acreditam que a arma combate o crime e não a polícia.

Outro ponto que define os bolsonaristas ao modelo dos Republicanos é a conformação social – são classe média alta, com poucas exceções. Assim como no Brasil, lá também tem pobre de direita e preto extremista, como até aqui, o atual presidente da fundação Palmares.

Como disse Cazuza: “Brasil, mostra sua cara”… enfim ele se mostrou. Aos moldes americano, somos um país dividido assim como Democratas e Republicanos.

MERITOCRACIA

                           Ainda sobre o pensamento dos extremistas de direita a questão do “mérito” sobrepuja todas as outras questões.

O mérito está intimamente ligado a ideia de supremacia, desde a idade primitiva até os dias de hoje e isso é notório. A meritocracia arrostada pela nobreza de uma parte da sociedade – ocupada por certos indivíduos cuja posição social que ocupam em detrimento de outros – os elevam acima do mediano.

A pessoa nasce em ambientes adequados e aufere méritos sociais, culturais e consequentemente financeiros, com isso cria-se uma dinastia social como posseiros do bem público. A exemplo, a questão das cotas em Universidades Federais criou nessa parcela da sociedade um sentimento de defraldação de um bem que só era dela, e por costume, mas jamais pelo direito.

Essa defraudação cometida pela justiça social na cabeça do extremista meritocrático, gera o sentimento de subversão de um direito adquirido via regra imposta pela elite, ou seja: um privilégio de berço. “Afinal a nobreza é uma titularidade que merece a deferência”.

De forma que o racha vem de uma luta de classes no Brasil. Aquele “do nós contra eles”, e desde a coroa – que golpeada pelo militarismo estumado pela elite – inaugurou a  evidência que há um poder paralelo que nos arrasta segundo seus interesses.

RELIGIÃO

Completa essa resenha o fator religião. O Estado sendo invadido pela crença de que a fé pode remover montanhas, principalmente a fé evangélica/católica que detêm o maior poder que há na história da humanidade – a manipulação pela igreja e sua total fidelização.

O crente não bebe, não fuma, não usa drogas, não aborta, não comete crime, não é LGBTQIA+. Por fim ele se estabelece dentro de uma normalidade ética, portanto, pertencente a um grupo com poder panóptico, são os sensores da sociedade.

Seus pares são criaturas melhores que as outras, não por arrogância, mas por inferência moral, posto que esteja ao lado da lei, portanto resguardado por ela.

Sendo eles melhores que os outros, posto que moralmente sejam subjetivamente mais qualificados, esses cidadãos de bem, criaram um paradigma, qual seja, serem eles um instrumento nas mãos de Deus para corrigir a sociedade.

Hoje a bancada evangélica está empoderada no Congresso e o Estado laico é apenas um vazio da admoestação constitucional.

Traindo a metafísica cristã que envolve o “dai a Cesar o que de Cesar e a Deus o que é de Deus”, ou seja, separe as coisas, os evangélicos se dizem necessitados de representatividade. Assim o terreno ficou fértil e vasto para o plantio de toda sorte de praga política, desde o joio até o mais venenoso dos espinhos: a corrupção do próprio cristianismo.

Nomes não faltam para celebrar o desmanche da fé cristã. Edir Macedo, Valdemiro Santiago, Silas Malafaia, RR Soares e muitos outros – padres fanatizados nao ficam fora da lista. Pessoas que tornaram suas igrejas em seitas políticas e financeiras, instrumentando pessoas para um fim, menos o cristão. E ai de quem se pronunciar contra essa casta de demônios.

Waldemar Rego – Jornalista

Waldemar

Waldemar Rego é jornalista formado pela Faculdade Araguaia com diploma reconhecido pela Universidade Federal de Goiás UFG com extensão na área de mídia e política no cinema, fotografia jornalística e publicitária, diversidade cultural da mulher na comunicação, comunicação em tempos de mídias sociais, identidade visual em peças publicitárias e no jornalismo. Waldemar Rego também é artista plástico escritor e poeta.

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