O 10 de Junho português e a herança deixada para o Brasil
Cultura – a herança portuguesa deixada para o Brasil
Dentro do contexto das grandes descobertas e navegações do povo português é evidente que o Brasil jamais poderia ficar à margem. O País continental herdou não só a língua, mas todo um monumento cultural que amalgamou em si, outros povos, etnias e costumes os quais foram invariavelmente consolidados pela língua mater portuguesa – o cimento da cultura brasileira.
Na data de 10 junho de 1580, ano da morte de Camões* – nesse Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas em que se comemora esse que foi um dos maiores gênios da literatura universal – Luiz Vaz de Camões, o qual colocou sua maternidade nativa no pináculo da história da humanidade com “Os Lusíadas” o Brasil se apresenta, ainda que de forma modesta, através do poeta e artista plástico Rego Júnior nascido no coração do Brasil – Goiás – com o lançamento de seu livro O Equador da Vida e a exposição Herança Cultural a se realizar na região de Moita, Margem Sul de Lisboa.
A curadoria da exposição tem a anuência do carnavalesco e promother Cláudio Neves que já de longa data promove a integração luso-brasileira em Lisboa. Amante do carnaval brasileiro ele foi o interlocutor e organizador da exposição juntamente como lançamento do livro de poesias de Rego Júnior em solo português. Junto a ele desempenha o chef autoral Van Melo que mescla a comida brasileira com a portuguesa, ambos proprietários do Restaurante & Companhia onde ocorre diversos encontros artísticos de matriz luso-brasileira.
No contexto pictórico o artista remete à religião enquanto forma de atingir essa herança onde ele pinta, através de cores vivas e formas fragmentadas, os costumes brasileiros herdados das terras d’além mar, como no quadro “Folia de Reis” – um lamento musical com raízes, talvez no Fado, em que é exaltado o nascimento de Cristo, mas também a certeza de sua morte. Na tela “Cavalhadas” o artista celebra a profusão de cores através de um estilo todo próprio desenvolvido entre o Cubismo Europeu e as cores vivas do Naif brasileiro em que interpreta o folclore das Cavalhadas que se realiza anualmente no Brasil na cidade de Pirenópolis GO. O tema faz alusão às guerras entre Mouros e Cristãos travadas nos domínios portugueses por quanto de sua libertação à retornar Portugal aos costumes cristãos. Outras telas do artista como “Carnaval e Congadas” estarão expostas no evento.
POESIA
A poesia cinza de um artista completo
Jornalista e artista plástico, Waldemar Rego Júnior é artista inquieto-completo. Ser humano do seu tempo, inconformado com as sutilezas quando a urgência grita em nossos ouvidos, ele comunica os grandes dilemas humanos. É alvissareiro ler sua poesia, já que traz o espírito do tempo dentro do homem completo em uma sociedade de seres inacabados.
Qual é, afinal, a semiótica de Rego? Como humano, ele regulariza nossas imperfeições com a busca da correção dos defeitos. Não que o autor não os aceite, mas luta contra eles sempre que pode. Por isso os revela.
Como artista, adotou a arte figurativa para recompor a realidade. Seu realismo é utópico, em busca das cenas mais icônicas, paisagens, retratos e naturezas mortas, além do culturalismo, em um ‘approach’ culturológico – diga-se, naquela leitura dos fetiches e rescaldos antropológicos de nosso cotidiano. Suas cores são pixels estourados, que nos chamam atenção de longe. Pinceladas de ourives nos surpreendem.
Por isso sua arte é impactante, real, virtuosa, revigorante.
Mas agora ele entrou nas palavras, objeto de trabalho do jornalista inserido na configuração das emoções. Entrou e jogou a chave fora. A interpretação é livre. Mas se fosse cor seria cinza.
Como jornalista, evidente, ele sabe bem a estrutura e idioletos do ofício de reportar a realidade. Talvez, a poesia seja o lazer do uso das palavras como trabalho.
Por isso a necessidade de se recorrer, como nunca, da semiose para “ver” sua realidade das palavras. Ler suas poesias é batalhar com os significados e polissemias, cuja virtude é dar ao leitor-fruidor uma obra mais aberta do que a figuração plasmada na tela.
Sua poesia arranca pedaços do leitor. Machuca. É dolorida. Honesta. Como a arte da tela, é forte. Mas antagonicamente mais acumuladora de sutilezas. Em sua poesia “Memórias de um morto“, nos dá pouca solução para a vida. Melhor: bate a real para quem está atolado em objetos, orgulhos e outras práticas da sociedade do consumo e de modismos.
Lá vai: “Na angustiante espera dos tempos de aquário/ Os séculos passaram como um rolo compressor.”
No texto, sua reflexão sobre Deus, o passar do tempo e a desqualificação do ser humano nos leva ao campo da Filosofia.
Rego também cria signos sobre o amor. Mas no sentido da perda. Em “Adeus, meu amor“, ele nos leva ao metaverso das palavras – ou metainverso: “Fincado no horto a sombrear o sonho sepulto/ O cipreste balança, se inclina ao vento e geme. Junto, o parelhar de voz no coração espreme… – É o cipreste antigo a duetar com o vulto”. Ao fim, o desterro da esperança: “É a natureza que num gemido triste e dolorido/ Apara a lágrima de um amor tão compungido.”
Em o “Escriba da loucura”, Rego dialoga com o inferno de Dante e a desesperança – a mesma de quando ele precisa ‘gritar’ suas dores humanas.
“No escarro emocional do pleno gozo/ Não conto sílaba pra compor meu verso (…)”, diz o poeta-jornalista.
É uma arte inacabada. Ao contrário das pinturas, as poesias podem ser reescritas, revisadas e reconstruídas de acordo com o humor e semblante do autor. O frame do agora é um grito que reverbera e ricocheteia em nossas vidas.
Waldemar é sensível, antena da nossa comunidade e aparo das nossas humanidades.
(Welliton Carlos) jornalista, mestre em Comunicação e doutor em Sociologia pela UFG).
SERVIÇO: de 10 a 14 de junho de 2023 a partir das 18h
Exposição de arte Herança Cultural e lançamento do livro O Equador da Vida do artista Rego Júnior
LOCAL: Morada Rua Machado dos Santos n 48 Moita, Margem Sul
Fone: 933395377 – Cláudio Neves
Restaurante & Companhia. Fusão da comida portuguesa e brasileira