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Telas e desenhos inéditos mostram a diversidade da cultura Kayapó

PRODUZIDAS COM APOIO DO PROJETO TRADIÇÃO E FUTURO NA AMAZÔNIA, OBRAS APRESENTAM GRAFISMOS TRADICIONAIS E O OLHAR DESTE POVO INDÍGENA SOBRE SEU TERRITÓRIO. ELAS SERÃO EXPOSTAS EM MATO GROSSO, NO PARÁ E NO RIO DE JANEIRO

A iconografia de um povo reflete sua visão de mundo e contribui para perpetuar sua cultura. Com apoio do Tradição e Futuro na Amazônia (TFA) – projeto patrocinado pela Petrobras, por meio Programa Petrobras Socioambiental, e gerido pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) – a memória e a diversidade do povo Mebêngôkre-Kayapó estão sendo retratados pelos próprios indígenas desde 2020, numa das maiores iniciativas de registro da rica iconografia Kayapó. As pinturas e os desenhos inéditos serão expostos pela primeira vez em 2023 e, a partir de junho, uma prévia será apresentada em galerias virtuais nas redes sociais do projeto. Nas oficinas, grafismos estão sendo transpostos da pele para telas e papel, o que permitirá levar o universo Kayapó a novos públicos, incluindo o urbano, distante das aldeias. Até o momento, quase cem obras já foram feitas por mais de 40 indígenas de pelo menos 12 aldeias.

O trabalho inclui também a catalogação desse acervo para que se conheça seus significados e autores, grupo em que predominam jovens e mulheres. O resultado é um rico mosaico, criado como uma “obra em andamento” e que será constituído por centenas de representações que compõem um retrato atual dos Kayapó.

A pintura corporal faz parte da cultura Kayapó. É um código que revela a que grupo a pessoa pertence, sua idade e história. E é vestimenta também. Eles também pintam em tecido, na produção de artesanato para a venda.”, conta Luís Carlos Sampaio, que convive com os Kayapó há anos e coordenou as oficinas realizadas em parceria com o Instituto Kabu, uma das três organizações representativas da etnia que trabalham em parceria com o TFA. As demais são o Instituto Raoni e a Associação Floresta Protegida.

Ao mencionar as pinturas corporais, Luís se refere aos tradicionais grafismos cuidadosamente traçados com pau de inajá (hastes de espécie nativa usadas como pincel) e pigmentos naturais usados pelas mulheres da etnia nos corpos dos indígenas em rituais e festas. Fixadas agora sobre telas estão linhas perfeitamente paralelas e formas geométricas que reproduzem desenhos e texturas presentes na natureza, como o casco do jabuti (foto acima, à esquerda) ou as águas do rio, pintura que remete à origem do povo Mebêngôkre (o nome significa “aqueles que vieram do fundo do rio”).

Já os desenhos, de autoria de adultos, jovens e crianças, conservam representações do cotidiano de homens e mulheres, de sua cultura e da relação com os biomas que os cercam – o Cerrado e a Amazônia. Um exemplo é o retrato, feito pelo indígena Takagmoro Kayapó, do cacique Raoni Metuktire, Kayapó que se tornou uma das principais lideranças indígenas do país (acima, à direita). Um conjunto que remete à compreensão clara da relação simbiótica com o meio ambiente, que assegura a conservação ambiental, chave da própria sobrevivência do povo Kayapó.

É importante que as futuras gerações continuem tendo acesso a esse conhecimento”, conta o jovem Tàkàktô, da aldeia A’Ukre, localizada na Terra Indígena Kayapó (PA), participante de uma das oficinas.

O acervo será exposto em mostra itinerante que passará pelas cidades do Rio de Janeiro (RJ), Novo Progresso (PA) e Peixoto Azevedo (MT) no primeiro semestre de 2023. As duas últimas cidades são relativamente próximas a aldeias da etnia e abrigam as sedes dos institutos Kabu e Raoni.

Waldemar

Waldemar Rego é jornalista formado pela Faculdade Araguaia com diploma reconhecido pela Universidade Federal de Goiás UFG com extensão na área de mídia e política no cinema, fotografia jornalística e publicitária, diversidade cultural da mulher na comunicação, comunicação em tempos de mídias sociais, identidade visual em peças publicitárias e no jornalismo. Waldemar Rego também é artista plástico escritor e poeta.

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