Justiça

CV e PCC as alternativas de poder

Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho ocuparam a cadeira do Estado para uma parcela considerável da sociedade Brasileira

Não há vácuo de poder, já afirmava a filósofa alemã Hanna Arendt para quem o poder é a soma das vontades de uma sociedade em convergência para um mesmo fim, a liberdade.

Se não há vácuo de poder, o poder ocupado pelas facções aqui citadas é em decorrência da falta de Estado. Ou seja, o Estado deixou de ocupar um espaço permitindo que outro organismo germinasse durante sua ausência.

Tenho dito por varias vezes que os únicos partidos políticos que funciona de forma ordenada são as facções, elas se proliferaram como praga pelo Brasil. Insisto também em dizer que há dois Brasis dentro do Brasil – um de cidadãos de primeira classe e o resto.

É desse resto que importa falar. Pessoas que, sem Estado, segregados e no subsolo das ações de governo, encontraram no crime a previdência necessária para; não integrar o andar de cima desse País, mas para usufruir do conceito de liberdade econômica e social, ainda que presas no subsolo dessa sociedade, o que representa um tipo de pertencimento social.

Esse pertencimento social não é alternativa, é caminho reto posto que único para determinada parte desse amalgama social que é o Brasil. Para os que nascem nesse processo social sistêmico, não há a possibilidade concreta para uma segunda  ou terceira via que os possam de fato render, coisas do tipo educação, formação profissional, saúde e outras pautas retinidas por milhões de vezes pelas bocas de políticos e governantes. Discurso vazio de ações que empurraram no precipício parte da sociedade – na sua maioria negra  – e foram para o abismo dessa nova forma de dominação – o tráfico de drogas – abismo ao qual chamo de “caminho único”.

Os reacionários de direita e legalistas do sistema irão dizer que as oportunidades são oferecidas a todos, mas as amostras coletadas desse ensaio social em estudo, nos dizem o contrario, não há elevador para o segundo piso e nem escada de acesso, o que existe é um discurso político da vontade dominante em replicar que a meritocracia é algo democrático e para todos.

O vazio desse discurso é tão evidente que somente nos países onde reina a miséria absoluta do contraste social é que vemos o soerguimento de facções e grupos paramilitares para o confronto. Confronto porque o ser humano é gregário e recusa o não pertencimento.

Lógico que há nesse contexto a transversalidade de ricos e poderosos com o submundo do crime, mas eles apenas corroboram a idéia de que esse núcleo de poder encontra-se num vácuo. Nesse vácuo não há regras, pois não há Estado, mas sim um estado de coisa onde as leis são transmitidas de forma oral e física – nesse caso observa-se o tribunal do crime – uma forma de imitação do estado de direito e de uma justiça plena, onde o “paciente” é julgado e condenado muitas vezes a morte por essa sociedade, que insisto, apenas imita a realidade do andar de cima.       

Importante também falar desse pertencimento social uma vez que dentro desse núcleo existem favores, direitos e obrigações para cada membro. Há exemplo, as viúvas do crime, cujos filhos são amparados pelos Comandos, advogados contratados, até cesta básica e muitas outras regalias oferecidas pela “chefia”.

Como já dito acima, conformou-se nesse subsolo uma hierarquia marcial que ordena ações e até mesmo julgamentos como os do tribunal do crime e coisas do tipo. Há até mesmo jogo de futebol nos presídios cuja bola é a cabeça de rivais decapitados (Manaus e outras cidades tiveram episódios semelhantes).

Não é necessário replicar aqui a qualidade dos presídios e nem a morosidade da justiça, sem falar da violência policial que engrossa esse caldo resultando em vingança das facções ao ponto de que, quem mata um policial, é herói no submundo.

Tais coisas, em minha opinião, se definem unicamente por falta de Estado, onde não há Estado – aí entenda-se força impositiva e não violência, ostensividade e não achaque, dever e não direito, justiça e não exclusão.

A fome de ser que grassa o andar de baixo e o modelo espelhado de uma sociedade indiferente com sua própria estrutura (andar de baixo) nos levaram a isso e chegaremos ou se não, já ultrapassamos a Camorra e a Ndrangueta, mas lá ainda que não exista um salário mínimo, uma renda baixa na Itália fica na média R$ 8.500.00 o que garante uma boa escola e e boa alimentação.        

Waldemar

Waldemar Rego é jornalista formado pela Faculdade Araguaia com diploma reconhecido pela Universidade Federal de Goiás UFG com extensão na área de mídia e política no cinema, fotografia jornalística e publicitária, diversidade cultural da mulher na comunicação, comunicação em tempos de mídias sociais, identidade visual em peças publicitárias e no jornalismo. Waldemar Rego também é artista plástico escritor e poeta.

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