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Como será o Brasil pós-eleição?

Assim começam às ditaduras fascistas

Se Lula ganhar terá dificuldades de governar com esse congresso eleito pela maioria conservadora e ávida por dinheiro secreto para garantir reeleições irrestritas. Por sua vez Bolsonaro, com sua torpeza, deverá consolidar sua política de extrema direita em detrimento de uma estrutura social de esquerda pautada no direito social. De qualquer forma a governança não será fácil para ninguém visto que o país está rachado.

Se ganha Lula a direita não irá se calar e se ganha Bolsonaro a esquerda também não vai se calar. Com isso, a rua será o palanque de novos embates sociais entre essas duas forças. A margem de tolerância entre esses dois estopins está chegando ao fim e nos falta o “bombeiro” para apagar esse incêndio que pode virar uma explosão social. Chegamos no limite da tolerância de lado a lado.

Mas há uma pergunta que não se fez ainda nos fóruns de discussão político-sociais, qual seja: quem causou o racha, de onde surge esse movimento de dicotomia que nos impele ao ódio político?

Ao bem da verdade essa estrutura social dicotomizada vem sendo alimentada desde a coroa quando do golpe da República Velha, que destronou D. Pedro II e claramente, em virtude do fim da escravidão – escravidão que estruturava o poder econômico da elite brasileira – os cafeicultores e produtores de açúcar e grande latifundiários.

Com a maioria do congresso formada por filhos de fazendeiros contrários a libertação dos escravos – porque isso afetaria seus negócios – a coroa caiu dando lugar aos “republicanos” – quando se fala em republicanos é necessário saber de onde surge esse termo na política brasileira – a política do golpe. Nesse sentido, assim como hoje, conservadores e liberais sempre se enfrentaram na política indo às vias de fato no curso de nossa combalida democracia.

Se contados os golpes de Fernando Collor e Dilma Rousseff tivemos 11 golpes de Estado aplicados no Brasil, não é pouco para um País que prega a democracia, a liberdade e se diz uma nação cordial – cordialidade, essa, uma outra mentira contada pela frouxidão de um povo permissivo.

De maneira geral o Brasil é essencialmente um País com tendência a golpes de Estado – a sua própria historia diz isso, não é necessário ir muito fundo para contextualizar o assunto. A estrutura social brasileira sempre foi dividida entre pobres e ricos e mediados por uma classe média que funciona como fiel da balança, ou seja, que pende para o lado mais pesado. A classe social mediana e sem consciência, manteve a miséria nacional porque sempre se espelhou no status e nunca no trabalho, sendo o trabalho um meio e não um fim para se chegar ao topo. Essa é a racionalidade do brasileiro esperto e que gosta de levar vantagem. Daí nosso estado de corrupção sistemática.

Como toda política pública infere em redistribuição da renda, parcelamento e redistribuição da riqueza, a elite sempre estará na berlinda das políticas tidas como “socialistas”. Para a elite qualquer idéia que ameace o patrimônio é taxada de comunista, socialista e deve ser execrada na forma da lei, sendo seus promotores acusados de anarquistas do sistema.

Ora, da escravidão até hoje, o que se vê é a brutalidade de um sistema que massacra o mais fraco em virtude do lucro, do patrimônio, do privilégio. Tudo que coloca em risco o patrimônio deve ser satanizado. Um fato curioso que corrobora essa idéia foi a reforma trabalhista imposta ao povo brasileiro sob a escusa de aumentar a renda do trabalhador, mas que ao cabo de tudo, apenas livrou o empregador das custas trabalhistas e grande parte das demandas judiciais.

Um outro dado que engrossa esse caldo da extrema direita é o fator religião. Amontoados em igrejas, os crentes em Deus não admitem a postura independente de pessoas que pregam o domínio sobre o próprio corpo, quais sejam: de usar uma mini saia, fumar maconha, abortar, ter outros deuses (Candomblé) por exemplo e a homossexualidade em todas as suas manifestações. Essa é a pauta dos chamados “crentes politizados” que querem reordenar a sociedade de acordo com seu ponto de vista.

Vale lembra que uma sociedade moralmente pura ao gosto dos evangélicos nos remete ao nazismo alemão de Hitler que no seu totalitarismo, buscou na concepção moral, a virtude do novo regime.

Assim os totalitários que se assenhoram da verdade tornando-a absoluta segundo seus ditames morais com base na bíblia, avocam para si a verdade social. Não só de si, mas da sociedade como um todo, posto que estejam no cabo do chicote moral e dos bons costumes, segundo eles.

Nesse contexto, a lei eleitoral, no âmbito da democracia, permite que extremos como esses se manifestem da forma a mais vil possível. Por exemplo, a bancada evangélica que domina o congresso brasileiro via “Centrão” é um manifesto claro de que até mesmo a democracia, para ser democracia, comete erros os mais absurdos e calar essa corrente é silenciar a própria democracia.

Ora, mas e a lei enquanto Estado laico? Ora, que se dane a lei. Quem terá a coragem de proibir igrejas de se aventurarem pela política?

A força coercitiva da estrutura moral desse ajuntamento fascista inibe, coíbe e destrona a vontade do livre arbítrio em cada, uma vez que ele passa de dominador do próprio corpo a dominado, posto que a mente esteja refém do paradigma moral de terceiros. Essa é a pior das alienações – a consentida.

É de minha opinião que a riqueza das nações será sempre sua carta libertária, não há nação livre sem conhecimento que gere riquezas participadas. Todo o processo que vemos hoje e sempre nesse País perpassa pela equação: distribuição de renda mais educação mais paz social.

De modo que, quem for eleito nesse segundo turno das eleições, antes de mais nada, deverá reordenar o acesso aos bens econômicos mínimos necessários para que haja segurança institucional e uma reversão política contra o novo fascismo que brota no obscurantismo religioso da intolerância contra as diferenças.

Waldemar Rego – Jornalista.

 

 

Waldemar

Waldemar Rego é jornalista formado pela Faculdade Araguaia com diploma reconhecido pela Universidade Federal de Goiás UFG com extensão na área de mídia e política no cinema, fotografia jornalística e publicitária, diversidade cultural da mulher na comunicação, comunicação em tempos de mídias sociais, identidade visual em peças publicitárias e no jornalismo. Waldemar Rego também é artista plástico escritor e poeta.

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