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Tempos difíceis para os lavajatistas

Você já deve ter percebido: são tempos difíceis para os lavajatistas. Três dias depois de Sergio Moro ser hostilizado em uma feira livre de Curitiba pela tentativa de mudança de domicílio eleitoral para São Paulo, o TCU condenou o coordenador da Lava Jato Deltan Dallagnol, o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o procurador chefe da Procuradoria do Paraná, João Vicente Beraldo Romão por gastos indevidos na gestão administrativa da força-tarefa.

Somados, os valores atualizados das passagens aéreas e das diárias de viagens — que os procuradores lotados em outras cidades recebiam para trabalhar em Curitiba, base da força-tarefa — são de R$ 2,8 milhões em gastos indevidos. Alguns dos procuradores, como Carlos Fernando dos Santos Lima, Diogo Castor de Mattos e Orlando Martello, recebiam diárias (cerca de R$ 1 mil por dia) para se deslocar, se alimentar e se hospedar na capital paranaense mesmo morando na cidade. Assim funcionava a logística da operação que alegava combater a corrupção brasileira: gastando dinheiro público com passagens e hospedagens para quem simplesmente não precisava delas.

A condenação, por unanimidade da Segunda Câmara Ordinária do TCU e que ainda inclui multas individuais de cada procurador no valor de R$ 200 mil, revalida o que o jornalismo do Intercept vem revelando há mais de três anos. Matérias da Vaza Jato, série que revelou os bastidores crivados de ilegalidades da força-tarefa, já mostravam em 2021 conversas pelo Telegram em que os procuradores falam sobre as diárias.

Com a sentença, Dallagnol, pré-candidato a deputado federal pelo Podemos no Paraná, pode se tornar inelegível. Em outra reportagem da Vaza Jato, o chat de Telegram do ex-procurador consigo mesmo (ou com seu ego, como o colunista João Filho resumiu) dava pistas de como entrar para a política institucional era um desejo antigo. Janot, filiado ao mesmo partido, também não poderá ser eleito, mas ele já havia ficado de fora da lista de candidatos no Distrito Federal. Eles ainda podem recorrer da decisão.

Nos chats expostos na matéria do repórter Vinicius Konchinski em setembro de 2021, o Intercept revelou conversas dos procuradores do Ministério Público Federal de 2017. Nas trocas de mensagens, além de registrar que tinham endereços em Curitiba (marcando um churrasco em um bairro da cidade, por exemplo) mostraram preocupação, embora em tom de ironia, com o interesse de alguns jornalistas quanto à legalidade das diárias.

A Lava Jato hoje é passado, mas o cenário talvez fosse outro sem a publicação de mais de 100 reportagens do jornalismo investigativo de alta qualidade que o Intercept realizou com a série Vaza Jato. E é a esse ponto que quero chegar. Quando um trabalho é bem feito e tem impacto social, ele pode gerar efeitos por anos.

Revelar os bastidores da Lava Jato mudou — e ainda está mudando — o rumo da política brasileira, mostrando os desmandos de quem a grande mídia transformou em heróis. Se você acredita que o jornalismo deve denunciar abusos, privilégios e ilegalidades dos poderosos, você acredita no jornalismo do Intercept. Para que esse trabalho não pare, precisamos da sua ajuda. Se for possível, por favor, apoie o TIB com quanto puder hoje.

 

 

 

Waldemar

Waldemar Rego é jornalista formado pela Faculdade Araguaia com diploma reconhecido pela Universidade Federal de Goiás UFG com extensão na área de mídia e política no cinema, fotografia jornalística e publicitária, diversidade cultural da mulher na comunicação, comunicação em tempos de mídias sociais, identidade visual em peças publicitárias e no jornalismo. Waldemar Rego também é artista plástico escritor e poeta.

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