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Transhumanismo e violência

Um paradoxo entre drogas e drogas

                Segundo dados levantados pelo Governo Federal, só no Twitter foram descobertos 511 casos de postagem em apologia à violência nas escolas, isso em poucos dias no mês de abril de 2023.

Em reunião com as chamadas big techs da comunicação, o Governo Federal exigiu uma tomada de decisão dessas empresas para maior monitoramento desse tipo de postagens e, pasmem, uma das partes presente na reunião alegou “termos de uso”, ou seja: a escolha passa por um termo de uso descrito no ingresso do individuo nessas plataformas. Isso equivale a dizer que a responsabilidade é de quem usa a rede – uma salvaguarda que vai ao rés da ignomínia e falta de respeito com a inteligência das pessoas. É uma maneira de dizer: “o problema não é nosso, mas de quem usa.”

 – Esse discurso está em sintonia com os traficantes de drogas e a grande droga de hoje está nas redes sociais que aliena o homem de sua cultura a substituindo por uma nova cultura: a do ódio.        

Ora, a se valer desse argumento, poderiam fazer isso também com a cocaína, a heroína, o craque já que a responsabilidade é de quem usa. Ou seja, podemos produzir a droga e vendê-la, mas a culpa do dano é de quem compra e usa.

Veja só caro leitor, de quem é a responsabilidade das drogas tecnológicas oferecidas pelas big techs que viciam crianças, jovens e adultos.  

O tema violência nas escolas, contemporâneo, nos remete a reflexão sobre o papel da comunicação no aumento da violência não só em escolas, nas escolas isso fica evidenciado em virtude de que ali, crianças e adolescentes estão sobre pressão de um fator não muito recente: o bullying e as redes sociais, manipuladoras que são, é uma porta escancarada para criminosos que difundem o ódio através da normalização do termo “violência subliminar” em muitos casos pelo simples fato de receberem curtidas ou “likes” em suas postagens – quanto mais curtidas, mais sucesso. Por baixo dessa casca informacional está a publicização de produtos. Ou seja, tudo é um gancho de viés econômico.

Dizemos que a escola não educa ninguém, ela apenas informa e constrói saberes. A educação aventada no fio fino desse discurso implica em dizer que as famílias são as responsáveis pela construção da personalidade de seus membros. A desestruturação da tal célula da sociedade – a família – está colapsada pelos problemas do tipo estresse e esse estresse advêm como resposta psicológica pela pressão do dia adia, principalmente a financeira. Daí é razoável pensar que boa parte do problema está vinculado à questão econômica, sem a qual, se torna difícil prover uma boa educação, ressalvando que ironicamente no “melhor dos mundos, o amor fraternal” poderia, em muito, amenizar a questão.          

Retomando ao ponto, antigamente o bullying era a chamada “gozação” – curtição com a cara um do outro e por aí a coisa andava, mas sem os desfechos homicidas de hoje. Essas querelas geralmente terminavam em porradas fora do ambiente escolar, até mesmo para evitar a expulsão dos envolvidos.

Lógico que fatos com origens externas também fazem parte desse contexto como o caso do individuo que entrou na escola e com uma machadinha matou quatro crianças e feriu outras tantas em Blumenau SC. O indivíduo não era aluno, mas um psicótico que imprensa negava em fornecer o nome e o histórico, fato só esgarçado pelas mídias menores.

Ora, em muitos casos, não dar publicidade ao nome do criminoso e seu histórico é resguardá-lo das conseqüências de seu ato sob a alegação de que ele tenha matado para ficar famoso, ou coisa do tipo: para ganhar likes reais – tornar-se centro de um evento hediondo e com isso assombrar a sociedade. Ficar famoso hoje é fundamental, essa é a nova ordem disposta nos meios de comunicação virtual, pois dada a voz aos idiotas, só resta conviver com suas conseqüências. Esse é o discurso efervescente de agora: uma responsabilização das redes sociais com seus discursos pró-violência.

Sobre Blumenau, não se quer dizer aqui tal crime foi cometido pela virtude da fama, mas há que se ponderar os vários fatores que premiaram esse ato de brutalidade extrema.

Nesse sentido é importante dizer é que essa passada de pano da imprensa e autoridades sobre o núcleo do problema é transversal à realidade premente qual seja: a ordenação jurídica sobre aquilo que está instituído. A exemplo a escola Cantinho Bom Pastor em Blumenau, apesar do nome está; assim como a maioria esmagadora dos ambientes sociais, mercê de atos do tipo porque não há regramento ou censura daquilo pode e o que não pode numa verdadeira transferência de responsabilidade para a sociedade daquilo que é do Estado das corporações.

Vale lembrar que o caso de Blumenau tem início com o uso de drogas pelo assassino, conforme relato da própria mãe e desde quando a família deu conta de conter o tráfico de drogas para impedir que os seus sejam usuários ao ponto de surto psicótico como foi o caso. Onde está o Estado?  

A sociedade adoecida com o está, cujo remédio amargo teria que ser a mão pesada do Estado contra os meios de produção dessa cultura da violência que está nas redes sociais com seus joguinhos inofensivos onde cabeças são decepadas, o Estado se cala e passa esse pano democrático chamado “conscientização da sociedade”.

Ora, chega à indecência esses argumentos de pseudo-sociólogos ao alegarem que devemos “educar a sociedade” para o enfrentamento dessas mazelas. Quem educa a sociedade é o Estado pelo chicote da lei que pune e não que passa o pano.

Vislumbra dentro desse contexto, a emergente Inteligência Artificial (AI). Um monstro sem nenhum tipo de regulação que será capaz de potencializar ao infinito as ações de hackers criminosos. Ela será capaz de chegar ao ponto de subtrair e gerar informações de forma jamais vista, substituindo inclusive o paradigma da cultura humana.  A arte é um exemplo. É a droga da pós-verdade.

Como profetizado por Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista de Hitler, em que uma mentira contada mil vezes se torna verdade, com a AI o mundo paralelo se tornará a verdade absoluta. Isso se torna constatável a partir do ponto de vista da customização da violência replicada pelas redes sociais e comunicação como um todo. Se mil vezes replicada, a mentira se torna uma verdade, uma mentira contada um bilhão de vezes na cabeça do ser humano será uma verdade absoluta, define-se.

Estamos vivendo o limiar para a transvaloração do humanismo e o universo cibernético onde o homem-máquina será a epítome da auto-criação. A ciência caminha a passos largos em direção a um abismo desconhecido que não sabemos onde vai dar. Olhamos tanto para o abismo da tecnologia que ele começa olhar para nós e nos engolir.  

Na nossa humilde opinião e questionamento a grande questão é: qual será o papel do Estado frente ao desafio que está posto sobre o uso das drogas químicas e cibernéticas? A continuar como está, a replicação de conteúdos recontados a mil vezes até que se torne uma verdade, é o grande desafio, porque o das drogas nós já perdemos.

Como jornalista também opino que a liberdade é um ato concedido pelo Estado e não pode ser contra o Estado porque o Estado é o guardião dos que querem a liberdade. Na forma desbragada como está e com o avanço das tecnologias, a sociedade será refém – e já está – das grandes corporações. Estamos deixando de ser livres para sermos escravizados pelo vício na tecnologia com sua tecnocracia privada.

Se você duvida do texto vá pesquisar o que é e-drugs

Waldemar Rego

Jornalista, escritor artista e plástico

Waldemar

Waldemar Rego é jornalista formado pela Faculdade Araguaia com diploma reconhecido pela Universidade Federal de Goiás UFG com extensão na área de mídia e política no cinema, fotografia jornalística e publicitária, diversidade cultural da mulher na comunicação, comunicação em tempos de mídias sociais, identidade visual em peças publicitárias e no jornalismo. Waldemar Rego também é artista plástico escritor e poeta.

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